segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A casa de cada um

Há tempos não venho aqui... estava devendo. E a maioria dos textos postados neste blog são de minha autoria, abri poucos espaços para Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, Drummond... mas hoje abro para um texto que recebi da amiga Onides Bonaccorsi, de Walcyr Carrasco. Compartilho:


A casa de cada um


Nesta época, gosto de tratar da vida.
Dou a roupa que não uso mais.
Livros que não pretendo reler. Envio caixas para bibliotecas.
Ou abandono um volume em um shopping ou café, com uma mensagem: "Leia e passe para frente!".

Tento avaliar meus atos através de uma perspectiva maior.
Penso na história dos Três Porquinhos. Cada um construiu sua casa. Duas, o Lobo derrubou facilmente.
Mas a terceira resistiu porque era sólida. Em minha opinião, contos infantis possuem grande sabedoria, além da história propriamente dita.
Gosto desse especialmente.
Imagino que a vida de cada um seja semelhante a uma casa. Frágil ou sólida, depende de como é construída.
Muita gente se aproxima de mim e diz: Eu tenho um sonho, quero torná-lo realidade! Estremeço.
Freqüentemente, o sonho é bonito, tanto como uma casa bem pintada. Mas sem alicerces.
As paredes racham, a casa cai repentinamente, e a pessoa fica só com entulho. Lamenta-se.
Na minha área profissional, isso é muito comum.

Diariamente sou procurado por alguém que sonha em ser ator ou atriz sem nunca ter estudado ou feito teatro.
Como é possível jogar todas as fichas em uma profissão que nem se conhece?
Há quem largue tudo por uma paixão. Um amigo abandonou mulher e filho recém-nascido.
A nova paixão durou até a noite na qual, no apartamento do 10º andar, a moça afirmou que podia voar.
Deixa de brincadeira , ele respondeu.
Eu sei voar, sim! rebateu ela.
Abriu os braços, pronta para saltar da janela. Ele a segurou. Gritou por socorro. Quase despencaram.
Foi viver sozinho com um gato, lembrando-se dos bons tempos da vida doméstica, do filho, da harmonia perdida!

Algumas pessoas se preocupam só com os alicerces. Dedicam-se à vida material.
Quando venta, não têm paredes para se proteger.
Outras não colocam portas. Qualquer um entra na vida delas.
Tenho um amigo que não sabe dizer não (a palavra não é tão mágica quanto uma porta blindada).
Empresta seu dinheiro e nunca recebe. Namora mulheres problemáticas.
Vive cercado de pessoas que sugam suas energias como autênticos vampiros emocionais.
Outro dia lhe perguntei: Por que deixa tanta gente ruim se aproximar de você?
Garante que no próximo ano será diferente. Nada mudará enquanto não consertar a casa de sua vida.

São comuns as pessoas que não pensam no telhado. Vivem como se os dias de tempestade jamais chegassem.
Quando chove, a casa delas se alaga.
Ao contrário das que só cuidam dos alicerces, não se preocupam com o dia de amanhã.

Certa vez uma amiga conseguiu vender um terreno valioso recebido em herança.
Comentei:
Agora você pode comprar um apartamento para morar.
Preferiu alugar uma mansão. Mobiliou. Durante meses morou como uma rainha.
Quase um ano depois, já não tinha dinheiro para botar um bife na mesa!

Aproveito as festas de fim de ano para examinar a casa que construí.
Alguma parede rachou porque tomei uma atitude contra meus princípios?
Deixei alguma telha quebrada?
Há um assunto pendente me incomodando como uma goteira?
Minha porta tem uma chave para ser bem fechada quando preciso, mas também para ser aberta quando vierem as pessoas que amo?

É um bom momento para decidir o que consertar. Para mudar alguma coisa e tornar a casa mais agradável.
Sou envolvido por um sentimento muito especial.
Ao longo dos anos, cada pessoa constrói sua casa.
O bom é que sempre se pode reformar, arrumar, decorar!
E na eterna oportunidade de recomeçar reside a grande beleza de ser o arquiteto da própria vida.

domingo, 28 de agosto de 2011

Luz!

Nas ondulações cheias de riscos e também harmonia, e na certeza de que tudo é breve muito breve, deixa de ter tanta importância o vencer ou perder, mas tentar é a real necessidade do ser humano.
São os motivos cheios de anseios, desejos, vibrações, incertezas, que nos fazem perdurar em uma eterna sina: a busca.
Buscamos uma etapa, perto de concluída, lá vem outra, e mais outra, e outra... algumas nem finalizam, mas estão aí.
E se tudo é tão breve, o essencial é crer no valor de cada motivo, sem superfaturar, pois devem ser tratados do seu tamanho real.
No mais, nos cabe sonhar, crer, planejar, agir... Com ou sem final feliz, trilhamos... na certeza de que o ponto final será o mesmo à todos.
Nessa sincronicidade da vida, buscamos os feitos como base para cada nova etapa.
E isso é para dizer a essa luz de nome harmonioso, que essa é mais uma etapa, vivida com toda a intensidade que lhe é peculiar, mas com a certeza de que foi conquistada com boas lembranças que devem sobressair as dificuldades, e cheia de perspectivas que devem ser alimentadas, tentadas. Solene... Sole... Sol, que venham outras etapas.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Andréa Nha Cretcheu,

Como sintetizar você em um quarto de página? Impossível, porque é difícil traduzir ou descrever a beleza da alma dos pássaros. E você, Nha Cretcheu, nasceu com alma de pássaro, daqueles cujas plumas rabiscam e colorem o céu com seu vôo indelével. O seu espírito livre e inquieto está sempre voltado para além do infinito, porque queres descobrir a beleza do pôr-do-sol que está por detrás da outra margem. Tuas asas batem insaciavelmente por novas descobertas…
E foi essa inquietude e sede de vida que a fez desatracar do seu porto-seguro e navegar em busca do seu sonho. Corajosa, determinada, como mulher leonina que é, ancorou seu barco na esquina do Rio mais belo com a linha do Equador e desafiou todas as adversidades. A menina da saia laranja e passos toc-toc brilhou, encantou os tucujus com seus textos instigantes; seduziu-se pelo rufar dos tambores e se inebriou no ritmo do marabaixo. Deixou sua marca. Entretanto, quis levantar novos vôos e se embrenhar nos mistérios e misticismos da densa floresta das cabeceiras do Amazonas. E assim fez uma longa viagem, da foz às cabeceiras do Grande Rio. Provou ayauasca, imunizou-se com o campô, percorreu barrancos, foi abençoada pelos pajés e rendeu-se ao encantamento da misteriosa floresta. Fez dessa terra seu porto porque quer desvendar seus enigmas tão aliciantes e sedutores. E assim vai escrevendo mais páginas da sua história, brilhando, encantando, seduzindo… Até o próximo vôo.
A nossa alegria hoje é imensa em partilhar, mesmo distantes fisicamente, essa homenagem a você. Tal como dissemos no início da mensagem, você é nossa querida amiga. O termo crioulo Nha Cretcheu tem múltiplos significados: amigo, querido, companheiro, amado, especial… E você é nossa Nha Cretcheu, entre inúmeras outras coisas, por ser nossa cúmplice do amor profundo pela Africa e pela Amazônia.

Felicidades Zílio!

Com o afeto e o carinho dos seus amigos:

Mara e Carlos

(Texto dos amigos, Mara e Carlos, em homenagem a minha entrada na fase balzaquiana)


sábado, 4 de junho de 2011

Hoje!

Hoje é um daqueles dias te sinto mais perto de mim,
minha memória que foi generosa com a infância me envia retalhos do passado.
Teu corpo ganhou várias formas e tua essência rabiscava a graça, o humor e tudo mais que a tornou inesquecível.
Dentro do passado te trago para o meu presente, almejando em todo meu íntimo um momento futuro que já não é mais possível.
Almejo com toda a força de meu ser, algo que jamais terei como quero, então meu refúgio está na fantasia, no imaginário, no sonho, onde enfim... a reencontro.
Mas você não deixaria simplesmente assim... te vejo no rosto e gestos das nossas quatro preciosidades, suas crias.
Hoje é um daqueles dias... de fortes saudades!

(Para minha doce irmã, Ana Karla)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Silêncio...voar!

Corro em palavras aceleradas, esvoaçadas ao dia... não me pertencem.
Ouço... o silêncio, meu fiel companheiro, ao qual compartilho o doce e amargo... meu.
Ele está nas canções cheias de lembranças, nas paisagens que meus olhos observam com a cumplicidade e desejo em dividir.
Está nas banalidades que meus lábios sussurram no anseio de serem ouvidos.
Na dores, que ele se quer permite comentar, nas alegrias em que rege a sinfonia.
Mesmo sendo ensurdecedor, peço que ele fique um pouco mais, onde minha alma se embrulha, friorenta, solitária.
Suplico que permaneça para me acalantar, sem pressa, todas as noites, me coloque para ninar.
Imploro que em suas melodias, ele reconstrua um novo voar.
(Texto: A.Z)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Navego!

Navegar nesse rio da infância, que ensina a nadar, mergulhar entre os carandirus e carataís...
nessa fantasia que faz perder o medo da água barrenta e abrir os olhos para os sonhos.
Traçar as características que te seguem por toda uma vida, entre elas, a de que muitas podem mudar, aperfeiçoar...
Assim como na estrada, as curvas dessas águas também apresentam um horizonte sempre inesperado.
A maresia pode ser calma e serena, formando somente pequenas ondulações, outras vezes, parece ter a fúria do mar.
Nessas águas cheias de energia... observar e ver muitas vidas, diferentes histórias, também leva ao encontro da morte... de muitos que tiveram seus sonhos engolidos nesta profundeza.
Nessa vida ribeirinha, sempre é o sol que se avizinha, anunciando um dia após o outro de maneira mais lenta, sem pressa, sem a voracidade do mundo moderno.
Nessas lembranças, voltamos a ninar... reconstuindo todos os cacos que tentaram enterrar.
Nessa fúria, recomeçamos com o desafio de acalmar, contornar... aprendendo mais uma vez a navegar!
(A.Z / Foto: rio Afuá - Ilha do Marajó)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Rabisco

Corre... palavras desaparecem como formas de pequeninar as emoções.
Mas é o silêncio o grito que mais ecoa em seu coração...
Cúmplice, acolhedor, de uma ternura a se acostumar.
Talvez neste tempo seja ainda cedo, ou tudo é muito devagar?!
Ou na vagareza pergunte em uma das voltas se ainda é possível amar...
desacelera, acelera, não vale se ausentar...
Se enjoar, mesmo quando as ondas parecerem maior que o mar, e nenhuma palavra alcance o mundo, ainda assim, é sempre bom rabiscar.
Nessa imensidão, mesmo quando for um grão, entenderás que mais um, é sempre diferente e pode sempre ajudar!
(A.Z)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Singing In The Rain

Eu estou cantando na chuva
Só cantando na chuva
O que um sentimento glorioso
eu tenho muito prazer novamente
eu estou rindo das nuvens
Tão escuro sobre
O sol está em meu coração
E eu estou pronto para amar
Para amar
Deixar as nuvens tempestuosas perseguirem
Todo mundo do lugar
Venha com a chuva
eu tenho um sorriso em meu rosto
eu caminharei para pista abaixo
Com um refrão feliz
Cantando, cantando na chuva
Na chuva.
...

(Para começar o ano sem receio de se molhar. Que seja com serenidade, boas energias para saber usar a chuva)